08 dezembro 2011

Cystal Reports


Observatório: Report II



Parece que afinal a profecia Maia que anunciava o fim do Mundo para Dezembro de 2012 não foi bem interpretada. Parece que afinal "Os maias nunca disseram que haveria uma grande tragédia ou o fim do mundo em 2012." O fim de um ciclo, sim. O fim do mundo não. Foi desfeito o engano. Foi desmascarado o embuste. Os media veicularam a verdade agora revelada. Pronto, agora já toda a gente dorme descansada.

Por outro lado, parece que foi descoberto um novo planeta habitável a 600 anos-luz da Terra. E uma onda de renovada esperança trina pelo sistema nervoso humano a cada vez que se fala no assunto. Com esta descoberta, sobe para três o número de planetas fora do sistema solar em zona orbital habitável. O Keppler 22-b é, de facto, um novo mundo muito prometedor, felizmente intangível às humanas manápulas. Ainda não acabamos de destruir este planeta, já temos ganas de passar para outro, virgem, limpo, saudável e atestado de recursos para explorar.

E a humanidade continua a olhar para o seu umbigo e esfrega as mãos de contente.

07 outubro 2011

Querida Berlim



Fui ao teu encontro de expectativas vazias, mãos nos bolsos e alma de viajante.

Voltei cheia de ti. Olhos, ossos, entranhas, coração e mente.

Sou tua.

11 agosto 2011

O Legado de Eva





Oh iníqua fonte de sangue
que com ganas ancestrais
vilipendias e aviltas a condição feminina.

Se Eva soubesse o legado que deixaria às suas filhas ao mordiscar a sacra maçã
teria trincado antes a serpente e casado com Lilith.

29 julho 2011

Crystal Reports



Observatório: Report I

No tempo em que os OVNIs voavam pelos céus era tudo muito mais simples. Os dogmas eram a filosofia dos livres-pensadores e os homens é que andavam atrás das mulheres. O aquecimento global anunciava o apocalipse iminente e a banca engordava, filha bastarda mas favorita do capitalismo. As guerras eram transmitidas live no telejornal como se de filmes de acção com mau argumento se tratasse. As drogas lavravam, draconianas, pelas comunidades jovens. As ervas daninhas da oligarquia política tornavam-se frondosas árvores infestantes. A pornografia vulgarizou-se ao ponto de se tornar desinteressante. A obesidade mórbida tornou-se num padrão de normalidade. Os chips disseminaram-se e integraram a humana carne. Os pulmões começavam a conseguir respirar monóxido de carbono. A humanidade sabia que ia morrer e, não tendo nada a perder, vivia cada dia como se fosse o último. Tudo estava no seu devido lugar e o curso da história  fluía ao seu ritmo normal de insanidade e exício.

Agora há esperança. Tudo está perdido.

19 julho 2011

Férias


Respirar fundo a existência.
Abrandar o ritmo cardíaco e acertar o relógio pela natureza.
Viver como se fosse para sempre tarde de Verão.
Inspirar a indolência.
Soltar as obrigações ao vento e perde-las de vista.
Triturar os horários.
Lamber o sal da pele queimada do sol.
Comer, beber, dormir, comer, beber, dormir.
Passear, nadar, divagar, conversar ao sabor infinito do tempo.
Ter tempo para tudo e não fazer nada.
Saborear a insónia e/ou madrugar com convicção.
Voar com os olhos nas asas dos pássaros.
Estado de consciência mínima.
Fluir.

26 abril 2011

Mini-Meditação-Pós-Almoço-Antes-de-Voltar-ao-Trabalho


Dou-me ao luxo de um pensamento contemplativo.

Um apenas, para não exagerar.
Livro-me de tudo o que me oprime e reprime. Do que me entristece.
Depois deste sinuoso exercício respiro como mandam os sadhus.
Abro os olhos e espelho-me no universo, já noutra dimensão – a da contemplação.
Mudo de foco sem me distrair, remexo no fundo do bolso, procuro um grão de essência.
Quando o encontro deito-o ao vento.
Tem um brilho bonito, nacarado, multicolor, enquanto voa para longe ao sabor da brisa.
Pode ser que assente em terra fértil e que floresça.
No fundo do meu bolso, esquecido, não estava definitivamente a fazer nada.

[ Fechar o círculo e voltar à realidade ]

28 janeiro 2011

A Alcateia



Tive em tempos uma Alcateia, a mais bela de todas.
Fazer parte dela era tão natural como fazer parte deste mundo quando se nasce.
Corriamos de Alma nua pela nossa floresta agreste.
Selvagens, sedentos, famintos e sujos.
Eramos um só lobo.